Elegia da xavasca felpuda
Meus leitores mais fiéis saberão perdoar-me pela longa ausência que tive de impor-me durante os últimos meses, por conta de fatos que são sobejamente conhecidos da opinião pública. Desde meus últimos escritos, de repente me vi acossado por toda sorte de rábulas e meirinhos remunerados pelos muitos inimigos que fui granjeando nesse meu sacerdócio de doutrinar o povo nas cousas da sacanagem: da ala filoperoba do PT ao SINDIGORDA (filiado à CUT), do sr. Manoel Carlos ao Fluminense Football Club, passando pelo aiatolá Ali Khamanei (que aparentemente prolatou uma fatwa contra minha pessoa, dando ensejo a que o sr. Salman Rushdie me abordasse com um abaitolado “olá, colega” no último encontro literário de Paraty, aonde vou comer cu de jornalista) -- toda essa canalha, dis-je, de uma hora para outra resolveu cercear minha liberdade de escrever e educar minha gente, movendo contra mim os processos judiciais mais dispendiosos.
Tenho tido êxito satisfatório nessa minha temporada judicial, graças, sobretudo, à feminilização da magistratura brasileira. Dentre as muitas modalidades da putaria que tenho praticado, a que mais me comove é, decerto, a de comer o cu a essas profissionais de tailleur que circulam nos arredores do fórum, se possível em cima dos processos que lhes foram confiados. Até aqui, nenhuma magistrada a quem eu tenha ministrado esse tratamento (sempre por via anal) decidiu contra este réu, mas confesso que me assusta um pouco a perspectiva de ter de devastar furingos de desembargadoras sexagenárias à medida que os processos avancem para as instâncias superiores. No Brasil, perde-se muito tempo discutindo a reforma do Judiciário, sem que essa questão fundamental do acesso à Justiça seja sequer abordada: a comibilidade de nossas juízas. Desse jeito, eu vou acabar tendo de contratar um advogado (o sr. Eros Grau pode ir tirando esse sorrisinho sacana de sua cara devassa, que não existe a mais remota possibilidade de eu ir comer aquele lorto lasso).
De maneira que minha condição de litigante mal me deixa tempo para escrever qualquer coisa mais elaborada do que as cartas anônimas pelas quais denuncio que “sua esposa é puta” ou que “o seu filho aprecia uma trosoba flamejante a rasgar-lhe as bordas do esfíncter e magoar-lhe as paredes dos intestinos em sentido diagonal, respeitosamente, um amigo”.
Mas retomo, hoje, o meu magistério para compartilhar uma perplexidade com o público leitor. As últimas publicações com fotos de buceta a que tenho tido acesso -- da Playboy ao New England Journal of Gynecology -- dão conta de uma tendência preocupante: nos dias de hoje, já quase não se usam mais pentelhos. Refiro-me, evidentemente, aos pentelhos femininos, que os outros só me interessam na medida em que identificá-los me serve para exigir abatimentos em restaurantes, quando os vislumbro sobre minha comida.
Mas é raro, dizia eu, o aficcionado das prexecas encontrar, hoje, uma xavasca nos moldes daquelas que os garotos de minha geração admirávamos entre fascinados e apavorados, nas revistas suecas que folheávamos no intervalo das aulas de catequese: as bordas da racha perfeitamente dissimuladas em meio a um espesso matagal preto, louro ou ruivo, que freqüentemente se estendia do umbigo até abaixo da virilha.
E nem se diga que se trata dum fenômeno próprio dos anos 50 ou 60, embora tenha atingido seu paroxismo justamente nesse intervalo, quando mais de um fodedor competente morreu engasgado nos misteres preliminares à foda propriamente dita. Não: desde Eva e desde Lilith que essa imagem hirsuta foi-se firmando como verdadeiro arquétipo da buceta, a ponto tal que um poeta francês não-pederasta do século XVI descreveu a xavasca como “un petit mont, feutré de mousse délicate, / tracé sur le milieu d’un filet d’écarlate”. Não lhe bastava ter pêlos em abundância: era necessário que a xereca estivesse estofada, acarpetada de espessa pentelhama.
Aliás, reparemos: exceção feita aos baitolos que se compraziam em esculpir florentinas trosobas tristes (e moles), os demais gênios pré-românticos apreciavam mesmo era enterrar a pra-te-leva no que se convencionara chamar uma boca-de-cabelo. Artisticamente, a xavasca hirsuta é incomensuravelmente superior às dessas vagabundas imberbes que hoje exibem até a pleura nas revistas e filmes de sacanagem pós-Stagliano. Além da passagem de Rémy Belleau citada acima, sirva de ilustração bastante o belíssimo óleo sobre tela de Gustave Courbet cuja reprodução enfeita o hall social do meu andar, para desespero de meu vizinho sociólogo (imagem ampliada aqui).
(Até admito, por amor ao debate, que o leitor alegue em defesa das xoxotas imberbes o verso imortal de Gregório de Mattos Guerra, que já no século XVII -- antes, muito antes do triunfo da estética de Stagliano -- obtemperava:
É uma opinião respeitabilíssima, forçoso me é conceder. Mas desafio o onanista leitor a produzir-me mais exemplos de panegíricos à xavasca rapada na literatura, na pintura ou na música clássicas. Há sempre a carta do Caminha, dirá, com o dorso da mão na cintura, quem tiver medo de bucetas comme il faut. Mas reparem que a única coisa que o escriba alega em defesa das vergonhas “tão limpas das cabeleiras” é que “de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. Noutras palavras: se não servem para esconder, também não servem para foder. Fecha parênteses.)
Não se deduza deste meu arrazoado que eu aprecio a pilosidade exagerada tornada célebre, entre nós, por uma Cláudia Ohana -- cujo ensaio na Playboy, ostentando o que à primeira vista parecia um biquíni preto de veludo, afastou mais de um adolescente de então do caminho reto do heterossexualismo, donde a perobagem excessiva que hoje grassa por aí. Nessas cousas da sacanagem há que proceder sempre com mesura. Se não é agradável à vista (nem falemos do paladar) uma prexeca ornamentada com matagal de meio metro para mais -- com toda a fauna que forçosamente viceja em vegetação tão densa --, tampouco o é uma tão desprovida de pêlos que o usuário se pergunta se não comete nenhum crime ao enfiar o jonjolo em buraco tão lampinho.
Creio que este apelo à mesura é o quanto basta para direcionar a discussão para o bom caminho. Ninguém aqui está defendendo bucetas com tranças, mas quero crer que preferir prexecas imberbes é coisa de quem, no fundo, morre de medo de buceta, e só aceita meter-lhe a pica se a dita-cuja vier em estado de total assepsia -- e ainda assim como último recurso para os pais não descobrirem que o moçoilo em questão gosta mesmo é duma bruta pra-te-leva preta a magoar-lhe furiosamente o duodeno, nos fins de semana em que o São Paulo não jogue.
No mais, sem sair do terreno da gastronomia, é como recomendaria Paul Bocuse: quem não gostar de pimentões, que não coma ratatouille.
Tenho tido êxito satisfatório nessa minha temporada judicial, graças, sobretudo, à feminilização da magistratura brasileira. Dentre as muitas modalidades da putaria que tenho praticado, a que mais me comove é, decerto, a de comer o cu a essas profissionais de tailleur que circulam nos arredores do fórum, se possível em cima dos processos que lhes foram confiados. Até aqui, nenhuma magistrada a quem eu tenha ministrado esse tratamento (sempre por via anal) decidiu contra este réu, mas confesso que me assusta um pouco a perspectiva de ter de devastar furingos de desembargadoras sexagenárias à medida que os processos avancem para as instâncias superiores. No Brasil, perde-se muito tempo discutindo a reforma do Judiciário, sem que essa questão fundamental do acesso à Justiça seja sequer abordada: a comibilidade de nossas juízas. Desse jeito, eu vou acabar tendo de contratar um advogado (o sr. Eros Grau pode ir tirando esse sorrisinho sacana de sua cara devassa, que não existe a mais remota possibilidade de eu ir comer aquele lorto lasso).
De maneira que minha condição de litigante mal me deixa tempo para escrever qualquer coisa mais elaborada do que as cartas anônimas pelas quais denuncio que “sua esposa é puta” ou que “o seu filho aprecia uma trosoba flamejante a rasgar-lhe as bordas do esfíncter e magoar-lhe as paredes dos intestinos em sentido diagonal, respeitosamente, um amigo”.
Mas retomo, hoje, o meu magistério para compartilhar uma perplexidade com o público leitor. As últimas publicações com fotos de buceta a que tenho tido acesso -- da Playboy ao New England Journal of Gynecology -- dão conta de uma tendência preocupante: nos dias de hoje, já quase não se usam mais pentelhos. Refiro-me, evidentemente, aos pentelhos femininos, que os outros só me interessam na medida em que identificá-los me serve para exigir abatimentos em restaurantes, quando os vislumbro sobre minha comida.
Mas é raro, dizia eu, o aficcionado das prexecas encontrar, hoje, uma xavasca nos moldes daquelas que os garotos de minha geração admirávamos entre fascinados e apavorados, nas revistas suecas que folheávamos no intervalo das aulas de catequese: as bordas da racha perfeitamente dissimuladas em meio a um espesso matagal preto, louro ou ruivo, que freqüentemente se estendia do umbigo até abaixo da virilha.
E nem se diga que se trata dum fenômeno próprio dos anos 50 ou 60, embora tenha atingido seu paroxismo justamente nesse intervalo, quando mais de um fodedor competente morreu engasgado nos misteres preliminares à foda propriamente dita. Não: desde Eva e desde Lilith que essa imagem hirsuta foi-se firmando como verdadeiro arquétipo da buceta, a ponto tal que um poeta francês não-pederasta do século XVI descreveu a xavasca como “un petit mont, feutré de mousse délicate, / tracé sur le milieu d’un filet d’écarlate”. Não lhe bastava ter pêlos em abundância: era necessário que a xereca estivesse estofada, acarpetada de espessa pentelhama.
Aliás, reparemos: exceção feita aos baitolos que se compraziam em esculpir florentinas trosobas tristes (e moles), os demais gênios pré-românticos apreciavam mesmo era enterrar a pra-te-leva no que se convencionara chamar uma boca-de-cabelo. Artisticamente, a xavasca hirsuta é incomensuravelmente superior às dessas vagabundas imberbes que hoje exibem até a pleura nas revistas e filmes de sacanagem pós-Stagliano. Além da passagem de Rémy Belleau citada acima, sirva de ilustração bastante o belíssimo óleo sobre tela de Gustave Courbet cuja reprodução enfeita o hall social do meu andar, para desespero de meu vizinho sociólogo (imagem ampliada aqui).
(Até admito, por amor ao debate, que o leitor alegue em defesa das xoxotas imberbes o verso imortal de Gregório de Mattos Guerra, que já no século XVII -- antes, muito antes do triunfo da estética de Stagliano -- obtemperava:
Mas a maior regalia,
que no cono se há de achar,
para que possa levar
dos conos a primazia
(este ponto me esquecia)
para ser perfeito em tudo,
é nunca se achar barbudo,
por dar bom gosto ao foder,
como também deve ser
Chupão, enxuto, e carnudo.
que no cono se há de achar,
para que possa levar
dos conos a primazia
(este ponto me esquecia)
para ser perfeito em tudo,
é nunca se achar barbudo,
por dar bom gosto ao foder,
como também deve ser
Chupão, enxuto, e carnudo.
É uma opinião respeitabilíssima, forçoso me é conceder. Mas desafio o onanista leitor a produzir-me mais exemplos de panegíricos à xavasca rapada na literatura, na pintura ou na música clássicas. Há sempre a carta do Caminha, dirá, com o dorso da mão na cintura, quem tiver medo de bucetas comme il faut. Mas reparem que a única coisa que o escriba alega em defesa das vergonhas “tão limpas das cabeleiras” é que “de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”. Noutras palavras: se não servem para esconder, também não servem para foder. Fecha parênteses.)
Não se deduza deste meu arrazoado que eu aprecio a pilosidade exagerada tornada célebre, entre nós, por uma Cláudia Ohana -- cujo ensaio na Playboy, ostentando o que à primeira vista parecia um biquíni preto de veludo, afastou mais de um adolescente de então do caminho reto do heterossexualismo, donde a perobagem excessiva que hoje grassa por aí. Nessas cousas da sacanagem há que proceder sempre com mesura. Se não é agradável à vista (nem falemos do paladar) uma prexeca ornamentada com matagal de meio metro para mais -- com toda a fauna que forçosamente viceja em vegetação tão densa --, tampouco o é uma tão desprovida de pêlos que o usuário se pergunta se não comete nenhum crime ao enfiar o jonjolo em buraco tão lampinho.
Creio que este apelo à mesura é o quanto basta para direcionar a discussão para o bom caminho. Ninguém aqui está defendendo bucetas com tranças, mas quero crer que preferir prexecas imberbes é coisa de quem, no fundo, morre de medo de buceta, e só aceita meter-lhe a pica se a dita-cuja vier em estado de total assepsia -- e ainda assim como último recurso para os pais não descobrirem que o moçoilo em questão gosta mesmo é duma bruta pra-te-leva preta a magoar-lhe furiosamente o duodeno, nos fins de semana em que o São Paulo não jogue.
No mais, sem sair do terreno da gastronomia, é como recomendaria Paul Bocuse: quem não gostar de pimentões, que não coma ratatouille.