OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

24 julho 2013

ANOTAÇÕES SOBRE CIÊNCIA POLÍTICA



Cavalheiros: tenho acompanhado com ativo interesse as manifestações que tomaram o Brasil nos últimos meses. Antes que o leitor me entenda mal e me acuse injustamente de incorrer no pecado mortal da correção política, de sair por aí dando gritinhos de ordem em favor da saúde e educação e contra o reverendo pastor Feliciano, esclareço que acompanho os protestos porque neles tenho encontrado uma fonte inesgotável de xavascas boas ou passáveis, mas xavascas ao fim e ao cabo.

O leitor graduado em sociologia dirá, enquanto franze o sobrolho, cofia os pelos da barba tirante a gris, põe para tocar The White Man's Jazz Collection e torna a sentar-se meio de lado no divã de tafetá, que em qualquer multidão regular haverá, via de regra, uma boa metade de indivíduos portadores de buceta, e que nesse sentido os protestos juvenis não são superiores aos vernissages que ele próprio freqüenta. Dirá e se foderá de verde, amarelo, azul e branco com vinte e sete estrelinhas no olho-do-cu, por não nutrir por essas questões de buceta um interesse mais do que especulativo. Ora, redargüirei, qualquer indivíduo do sexo masculino que não use o cu para funções outras que o cagar sabe que o número de xoxotas numa população dada é de serventia pouca ou nenhuma se essas mesmas xoxotas não forem dáveis. O que faz da universitária semipolitizada que manda o sr. Sérgio Cabral ir tomar na peida um espécime superior à freqüentadora de vernissages é justamente a facilidade com que passa da discussão política ao chupar paus.

Para isso, é claro, o aventureiro que se disponha a aturar conversa-mole para dar de pastar ao jonjolo precisa aprender a falar a língua da presa. Ora, minha intuição me dizia desde o princípio, e as pesquisas de opinião posteriores mo confirmaram, que a participante típica dessas passeatas é eleitora da Marina Silva. De modo que comecei a ensaiar um discurso capaz de sensibilizar a eleitora verde a ponto de ela querer botar para dentro a trosoba dum cavalheiro que lhe dobre a idade. Comecei pela hagiologia biográfica: — Marina Silva me fascina: é metade preta, metade nordestina, metade evangélica. Tem três metades, é uma grande mulher! O expediente revelou-se contraproducente e não me granjeou mais do que meia dúzia de caras-de-cu e três processos por discriminação. Resolvi ser mais sutil e adotar um discurso vagamente ecológico. A cada bostejo de minhas interlocutoras sobre a política e os políticos, passei a responder que o planeta não agüenta. Não agüenta nosso ritmo de consumo, não agüenta comermos carne bovina, não agüenta pobre dirigir carro ou chinês se alimentar três vezes por dia. Por maiores que fossem as barbaridades que eu sustentasse, o tom de beatitude e resignação com que eu asseverava que o planeta não agüenta bastava para me garantir boas e numerosas trepadas.

Creio, no entanto, não exagerar se afirmo que esta — a existência, ao alcance de todos, de um expediente utilíssimo para entabular conversação com uma mocinha com o objetivo único de depois ir-lhes arrebentar os entrefolhos — é a única vantagem concreta da participação das mulheres na política. Ora, o voto feminino está na gênese de tudo quanto é idéia cretina a vicejar no Ocidente, a começar pela Lei Seca. Vede a magistral cena de abertura de The Wild Bunch. Vede as senhoras mal comidas a cantar hinos protestantes com o só propósito de esmigalhar os bagos dos maridos, questionando-lhes o sacrossanto direito de encher os cornos para esquecer que têm em casa uma senhora mal comida a cantar hinos protestantes com o só propósito de esmigalhar-lhes os bagos. Há mais ciência política nessa cena do que em todo o Bobbio, Voegelin ou Sater, Almir.

De modo que, se hoje me aproveito irresponsavelmente da fartura de xavascas que as manifestações de rua me proporcionam, não é sem graves preocupações quanto ao que nos reserva um futuro cada vez mais determinado pelo potencial destrutivo duma mulher detrás duma urna. Aos que se apressam em denunciar o intolerável obscurantismo destas minhas observações, enquanto fitam a geladeira, indecisos entre a berinjela preta e a mandioca cinza, peço apenas que contemplem o exemplo atualíssimo da Grã-Bretanha. Lá, um pederasta de nome David Cameron pretende impor a todo cidadão de bem, regularmente batizado, crismado e em dia com suas obrigações cívicas, militares, tributárias e conjugais, o dever de, juntamente com o acesso à Internet, contratar também o filtro que o impedirá de ver xavascas hirsutas ou imberbes, furingos indevassados ou na glória fulgurante do gaping, vagabundas em conjunção com macho ou fêmea, homem ou cão, animal ou máquina, humano ou japonês. Tudo isso, segundo nos explica com a habitual sobriedade a Foreign Policy, para reverter a sangria de votos conservadores entre as portadoras de buceta (a Foreign Policy não usa a expressão "buceta"), que em 2010 preferiam os tories a uma taxa de 36%, contra 31% para os trabalhistas, mas hoje se inclinam pelos segundos a uma taxa de 51% contra 25%.

Em suma, 120 anos depois de a Nova Zelândia dar o mau passo inaugural, hoje o sufrágio feminino nos leva à situação limite em que, para ganhar uma eleição, neguinho quer proibir as nossas punhetas. Motivos de sobra para o homem de bem descrer do futuro.


3 Comments:

Anonymous Absalão Bussamra said...

GÊNIO.

09:23  
Anonymous Anônimo said...

Espetacular análise sobre as mocinhas que levantam cartazes nas manifestações e gritam contra um político qualquer. Fariam melhor se liberassem suas respectivas buçanhas e bundas sem precisarmos escutar as bobagens que saem de suas deliciosas boquinhas. Parabéns ao Sr. Pascucci por educar a nação corretamente.

15:46  
Anonymous Jorjão Papacu said...

Sábias palavras, como sempre.

11:13  

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