ANOTAÇÕES SOBRE CIÊNCIA POLÍTICA
Cavalheiros:
tenho acompanhado com ativo interesse as manifestações que tomaram o Brasil nos
últimos meses. Antes que o leitor me entenda mal e me acuse injustamente de incorrer
no pecado mortal da correção política, de sair por aí dando gritinhos de ordem
em favor da saúde e educação e contra o reverendo pastor Feliciano, esclareço
que acompanho os protestos porque neles tenho encontrado uma fonte inesgotável
de xavascas boas ou passáveis, mas xavascas ao fim e ao cabo.
O
leitor graduado em sociologia dirá, enquanto franze o sobrolho, cofia os pelos da
barba tirante a gris, põe para tocar The
White Man's Jazz Collection e torna a sentar-se meio de lado no divã de
tafetá, que em qualquer multidão regular haverá, via de regra, uma boa metade
de indivíduos portadores de buceta, e que nesse sentido os protestos juvenis não
são superiores aos vernissages que
ele próprio freqüenta. Dirá e se foderá de verde, amarelo, azul e branco com vinte
e sete estrelinhas no olho-do-cu, por não nutrir por essas questões de buceta
um interesse mais do que especulativo. Ora, redargüirei, qualquer indivíduo do
sexo masculino que não use o cu para funções outras que o cagar sabe que o
número de xoxotas numa população dada é de serventia pouca ou nenhuma se essas
mesmas xoxotas não forem dáveis. O
que faz da universitária semipolitizada que manda o sr. Sérgio Cabral ir tomar
na peida um espécime superior à freqüentadora de vernissages é justamente a facilidade com que passa da discussão
política ao chupar paus.
Para
isso, é claro, o aventureiro que se disponha a aturar conversa-mole para dar de
pastar ao jonjolo precisa aprender a falar a língua da presa. Ora, minha
intuição me dizia desde o princípio, e as pesquisas de opinião posteriores mo
confirmaram,
que a participante típica dessas passeatas é eleitora da Marina Silva. De modo
que comecei a ensaiar um discurso capaz de sensibilizar a eleitora verde a
ponto de ela querer botar para dentro a trosoba dum cavalheiro que lhe dobre a
idade. Comecei pela hagiologia biográfica: — Marina Silva me fascina: é metade
preta, metade nordestina, metade evangélica. Tem três metades, é uma grande
mulher! O expediente revelou-se contraproducente e não me granjeou mais do que
meia dúzia de caras-de-cu e três processos por discriminação. Resolvi ser mais
sutil e adotar um discurso vagamente ecológico. A cada bostejo de minhas
interlocutoras sobre a política e os políticos, passei a responder que o planeta não agüenta. Não agüenta nosso
ritmo de consumo, não agüenta comermos carne bovina, não agüenta pobre dirigir
carro ou chinês se alimentar três vezes por dia. Por maiores que fossem as
barbaridades que eu sustentasse, o tom de beatitude e resignação com que eu
asseverava que o planeta não agüenta
bastava para me garantir boas e numerosas trepadas.
Creio,
no entanto, não exagerar se afirmo que esta — a existência, ao alcance de
todos, de um expediente utilíssimo para entabular conversação com uma mocinha com o
objetivo único de depois ir-lhes arrebentar os entrefolhos — é a única vantagem
concreta da participação das mulheres na política. Ora, o voto feminino está na
gênese de tudo quanto é idéia cretina a vicejar no Ocidente, a começar pela Lei
Seca. Vede a magistral cena de abertura de The Wild Bunch.
Vede as senhoras mal comidas a cantar hinos protestantes com o só propósito de esmigalhar
os bagos dos maridos, questionando-lhes o sacrossanto direito de encher os
cornos para esquecer que têm em casa uma senhora mal comida a cantar hinos protestantes
com o só propósito de esmigalhar-lhes os bagos. Há mais ciência política nessa
cena do que em todo o Bobbio, Voegelin ou Sater, Almir.
De
modo que, se hoje me aproveito irresponsavelmente da fartura de xavascas que as
manifestações de rua me proporcionam, não é sem graves preocupações quanto ao
que nos reserva um futuro cada vez mais determinado pelo potencial destrutivo
duma mulher detrás duma urna. Aos que se apressam em denunciar o intolerável
obscurantismo destas minhas observações, enquanto fitam a geladeira, indecisos
entre a berinjela preta e a mandioca cinza, peço apenas que contemplem o
exemplo atualíssimo da Grã-Bretanha. Lá, um pederasta de nome David Cameron
pretende impor a todo cidadão de bem, regularmente batizado, crismado e em dia
com suas obrigações cívicas, militares, tributárias e conjugais, o dever de, juntamente com o acesso à Internet,
contratar também o filtro que o impedirá de ver xavascas hirsutas ou imberbes,
furingos indevassados ou na glória fulgurante do gaping, vagabundas em conjunção com macho ou fêmea, homem ou cão, animal
ou máquina, humano
ou japonês. Tudo isso, segundo nos explica com a habitual sobriedade a Foreign Policy,
para reverter a sangria de votos conservadores entre as portadoras de buceta (a Foreign Policy não usa a expressão
"buceta"), que em 2010 preferiam os tories a uma taxa de 36%,
contra 31% para os trabalhistas, mas hoje se inclinam pelos segundos a uma taxa de 51% contra 25%.
Em
suma, 120 anos depois de a Nova Zelândia dar o mau passo inaugural, hoje o
sufrágio feminino nos leva à situação limite em que, para ganhar uma eleição, neguinho
quer proibir as nossas punhetas. Motivos de sobra para o homem de bem descrer do futuro.
3 Comments:
GÊNIO.
Espetacular análise sobre as mocinhas que levantam cartazes nas manifestações e gritam contra um político qualquer. Fariam melhor se liberassem suas respectivas buçanhas e bundas sem precisarmos escutar as bobagens que saem de suas deliciosas boquinhas. Parabéns ao Sr. Pascucci por educar a nação corretamente.
Sábias palavras, como sempre.
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