OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

11 janeiro 2007

Mais dissabores à beira-mar

Argumentava eu, alhures, sobre o homossexualismo, que, mais que um problema ético, esse flagelo constitui sobretudo um problema estético: com efeito, e isto é inegável, é de uma fealdade atroz um sujeito introduzir a trosoba própria em lorto peludo alheio.

Considero, inclusive, que a dificuldade do velho Moisés em perceber essa nuance é a principal razão da sem-cerimônia com que perobos de todas as idades ignoram, nos dias que correm, as proibições categóricas do Levítico (18:22, 20:13) e do Deuteronômio (23:17-18). Em vez de expressar sua rejeição em termos morais, teria sido muito mais proveitoso ao profeta expressá-la em termos estéticos. Não é só abominação: é feio pra caralho.

Ressaltar essa nuance também constitui minha principal defesa diante dos dedinhos acusadores — e dorso da mão na cintura, e o pezinho a golpear furiosamente o chão — da patrulha peroba do pensamento. Quando me acusam de semear o ódio aos entubadores de mangalhos, observo que meus juízos sobre a baitolagem são puramente estéticos. Quando me equiparam a Hitler por isso, obtempero que os únicos genocídios que tenho praticado são as cinco punhetas que executo laboriosamente todas as tardinhas (“são nações inteiras que se perdem a cada ejaculação!”, desespera-se um meu vizinho, que é pastor protestante).

Mas tergiverso e até agora não cheguei ao ponto principal deste ensaio. Escrevendo de meu retiro estival na localidade de Caxaprego, na ilha de Itaparica, Bahia, queria compartilhar com meus fiéis leitores minhas suspeitas de que o nudismo também é um problema muito mais estético do que ético.

Ora, à semelhança do que se deu no ano passado, neste verão também tive minhas expectativas frustradas ao comprar propaganda enganosa e dirigir-me a uma praia onde — asseguravam-me os folhetos turísticos — estes meus olhos cansados pela leitura e pela masturbação se deleitariam com a visão de xoxotas rapadinhas como as das índias de Caminha e de cus adolescentes ao léu como os das modelos do Most Erotic Teens.

Dolus malus! — desfaz-se em singulares ataques de pelanca o meu advogado, já reunindo provas fotográficas e testemunhais para a demanda milionária que moverei contra o Estado da Bahia. E, de fato, o panorama que se me apresenta diante dos olhos é em tudo diverso do que prometiam os prospectos. Em vez de sílfides adolescentes jogando voleibol, sexagenárias alemãs dirigindo pedalinhos; em vez de juvenis lortos femininos integralmente bronzeados, pálidos jonjolos balangando ao caminhar; em vez da visão paradisíada duma fulva penugem que se espessa abaixo dum umbigo de mulher, como que a indicar o caminho da casa do caralho, a imagem pavorosa de desbeiçadas xerecas de gordas tostando-se ao sol debaixo de minha janela.

Ora, caralhos que me fodam, para ver gente feia eu vou à rodoviária, sem o agravante de ter de contemplar-lhes as vergonhas.

Mas nenhuma descrição dos dissabores visuais por que estou passando jamais transmitirá ao leitor todo o emputecimento e exasperação que me acometeram ao encontrar, pela segunda vez em três dias, um pentelho a ornamentar o meu sorvete de casquinha. É iniqüidade demais com um cidadão regularmente batizado e crismado e escrupulosamente em dia com suas obrigações cívicas, militares e tributárias.

O leitor já terá percebido, a esta altura, que este autor é um sujeito avesso a violências contra os que praticam ostensiva e orgulhosamente a sua sem-vergonhice — sejam eles perobos que passeiam de mãos dadas ou gordos escrotos que se comprazem em exibir a pra-te-leva aos incréus —, e que o único remédio que recomendo para ultrajes dessa ordem é a galhofa.

Coerente com essa minha filosofia pacifista, temo que eu me tenha tornado o visitante mais impopular destas praias, pelas recomendações reiteradas que tenho feito aos homens de que não se façam sodomizar ao ar livre, sob pena de ter o cu dilacerado pelos grãos de areia da praia, e pelas observações pouco construtivas que tenho feito acerca de detalhes anatômicos de minhas interlocutoras (verbi gratia, aqueles concernentes ao contraste entre os cabelos tingidos de louro os tufos pretos de pentelhos xavascais).

Por conta desse meu comportamento, até agora ninguém me convidou para nenhum churrasco, luau ou suruba — convites dos quais eu declinaria, em todo o caso, por preferir escalavrar a chapeleta para a nova participante do Big Brother cujas ocupações consistem em “faço foto pra catálogo, sou modelo e danço nas baladas” (ou seja, é puta).

Mas percebo que tenho sido tratado com muito mais deferência pela população local, que, assim como eu, também não deve achar a menor graça nessa história de trosobas au soleil. Inclusive acredito que, até o fim desta semana, lograrei comer o cu da arrumadeira do hotel, uma negrinha para lá de jeitosa com quem pretendo brincar de Capitães da Areia, à beira-mar, tão logo se me apresente a oportunidade.