OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

14 março 2008

America, a resentful fat lady

Meus leitores, via de regra muito bem informados em matéria de putaria, estarão acompanhando em detalhes as tribulações do agora ex-Governador de Nova York, um tal Eliot Spitzer, forçado a renunciar depois que se descobriu que era habitué de putas. Instado pela imprensa nacional e internacional a pronunciar-me sobre o assunto (acaba de sair daqui a Cristiane Pelajo, caminhando com certa dificuldade), dou a seguir minha contribuição a este vasto e fascinante debate. Duas cousas chamam-me a atenção nessa patacoada toda:

(1) Que o freqüentar “primas” seja motivo bastante para impeachment, na democracia norte-americana. Posto diante de um homem feliz com a quota de bucetas que lhe tocou perfurar em sua passagem por este vale de lágrimas, o eleitorado americano reage como mulher merda. A América é uma gorda ressentida.

Com padrões morais assim draconianos, eu não gosto nem de imaginar que tormentos a cultura política ianque reservaria, por exemplo, a um Itamar Franco, aquele estadista, que se deixara esfregar os cornos, publicamente, por uma xavasca das mais hirsutas. Deviam mandá-lo direto para Guantánamo. Ou para o Tribunal de Nurembergue.

(2) Que o sr. Spitzer tenha a castimônia de despender US$ 4.500 (quatro mil e quinhentos dólares estadounidenses) numa única prostivagaranha, por chupabilíssima que seja. Não conheço os preços que se praticam no mercado americano, mas tenho para mim que, com essa pequena fortuna, o mandatário nova-iorquino poderia perfeitamente fazer-se comprazer por cinco ou seis vagabundas de razoável qualidade (por “razoável qualidade” entenda-se: não necessariamente do nível da que o Woody Allen solicita em Desconstruindo Harry). Afinal de contas, o que é que uma puta pode fazer por US$ 4.500 que outras cinco não façam melhor, e juntas, por US$ 900 cada uma (táxi incluído)?

Moía-se-lhe a caralha ao Governador, à força de chaves-de-buceta aplicadas por uma equipe de profissionais qualificadas, e o prócer se desligaria de suas funções ainda com um sorriso nos cornos, para emputecimento das gordas que dão o tom do debate público americano.

Espero, com estas contribuições, haver ajudado a re-situar o debate sobre o tema nos meios de comunicação nacionais.

06 março 2008

Do pó-de-arroz e outras perobagens

Uma magistrada que estou comendo (primeira instância, recém concursada) achou por bem compartilhar comigo a seguinte nota do Globo Esporte. Trata do acolhimento, pela veneranda Justiça do Rio, da pretensão da torcida do Fluminense de fazer arruacinhas histéricas, no Maracanã, com o tradicional pó-de-arroz.

Não tive acesso aos fundamentos da decisão, mas minha fonte assegurou-me, enquanto limpava os respingos de esperma que lhe ficaram pendentes do queixo, que a sentença fôra prolatada (ela disse assim, “prolatada”) por um seu colega esquisitão, que usa cavanhaque, faz spinning e escuta jazz. Aparentemente, o perobo teria argumentado que a proibição vigente feria sei lá que garantias constitucionais, tributárias do direito inalienável de dar o cu, e que perseguir o pó-de-arroz nos estádios não era medida essencialmente diferente da proibição da rainbow flag em passeatas, ou de calças de couro com zíper, quepes da NYPD e trosobas de plástico preto flexível em boates da Farme de Amoedo.

O fato é que a decisão judicial só fez intensificar, no Rio de Janeiro, uma atmosfera que eu talvez pudesse descrever, não sem rigor clínico, como euforia anal. Há semanas que a pequena e esquisitona torcida do Fluminense vinha interpelando as autoridades constituídas demandando fosse revista a proibição, em gritinhos de guerra como “Ui! É pó-de-arroz!”, “Fascina pela sua disciplina / o Fluminense me domina” e “É legal / ser homossexual”. Alegavam que o pó-de-arroz está indissociavelmente ligado à história do clube, eis que, nos primórdios do século XX, moçoilos de boa família, com sobrenomes como Welfare, Guinle e Cox (do ramo Cox-Sucker), surrupiavam a caixinha de maquiagem das irmãs para tornar mais apresentáveis o filho do caseiro, o jardineiro, o contínuo do pai, e franquear-lhes o acesso à sauna e ao banho turco da sede das Laranjeiras. Na sociedade preconceituosa de então, que não aceitava o amor em sua plenitude, parece que não ficava bem um rapaz de boa família andar por aí com “primo” mulato.

Não sei se os leitores esperam um pronunciamento meu sobre essa questão, que tanto ocupou os profissionais da crônica esportiva nos últimos dias. Já disse, noutras ocasiões, que eu sou um sujeito de paz, avesso a violências e constrangimentos contra quem não faz mais do que dar ou emprestar ou alugar o que é seu de direito. Ao mesmo tempo, no entanto, me é forçoso reconhecer que demonstrações assim públicas de baitolagem incomodam quem não as pediu nem espera vê-las, caso da imensa maioria dos que freqüentamos o ambiente predominantemente heterossexual dos estádios de futebol (excetuados aí, naturalmente, as Laranjeiras e o Morumbi). Se a coisa seguir por esse rumo e a perobagem organizada for obtendo mais e mais conquistas judiciais, periga o sujeito de bem ser forçado a aturar, em futuro não muito distante, marmanjo jogar bola com macaquinhos grenás semelhantes aos das meninas do vôlei, para marcar bem a trosoba dos atletas e com isto comprazer o nicho de mercado dos torcedores afluentes que chegam aos quarenta sem mulher para sustentar nem filho para criar.

Pensem nisso.