OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

23 maio 2012

BAITOLAGEM EM QUADRINHOS


Há poucos dias a DC Comics, por meio de um editor esquisitão que assina um suspeitíssimo Dan DiDio, anunciou que traria a público, em junho, que um de seus super-heróis encara quibes na contramão. Imediatamente se ouviu um álacre alarido de gritinhos e guinchos. Os primeiros, naturalmente, dos perobos de todo o gênero, que comemoram o saimento (do inglês outing) de mais uma celebridade, o que a seus olhos torna mais respeitável o vício feio de dar o cu. Os segundos, dos retardados de todas as idades, que há décadas especulam se o Batman não arrebenta os entrefolhos do garoto Robin quando ninguém está olhando, como se os dois personagens tivessem existência autônoma depois do momento em que o leitor larga a porra do gibi.

Ora, muito bem, a veneranda editora nova-iorquina houve por bem fazer graça com essas duas constituencies tão numerosas entre seu público pagante. Nesse contexto, é perfeitamente natural e legítimo que as atenções se voltem a um marmanjo suspeitamente solteiro depois dos quarenta que veste roupas justas de couro preto, tem um mordomo chamado Alfred, torce pelo Fluminense e adotou como sobrinho um adolescente malabarista. Este observador incréu, no entanto, lamenta ver-se forçado a estragar a festa precipitada dos leitores que já se dirigem ao banheiro com a revistinha do Batman debaixo do braço, enquanto besuntam de vaselina uma berinjela hirta e preta. E observa que o sr. DiDio, ao contrário deste comentarista vulgar, jamais falou em quibes e contramãos e, consultado por este blog, recusou-se a esclarecer em termos categóricos se havia cu na parada. Ao contrário -- reparai bem --, o sr. DiDio, perobo que é, disse apenas que a DC Comics revelará que um de seus personagens é gay.

Muito bem: é sabido que, entre os baitolos, o adjetivo ora empregado designa tanto os perobos propriamente ditos como -- e este é o ponto central destas minhas observações -- as fanchas e sapatas que, exatamente como o respeitável público, apreciam enterrar o crânio numa xavasca alheia, hirsuta ou glabra. De modo que o personagem de cuja homossexualidade se trata pode tanto ser o Batman (o que é mau, porque envolve práticas felizmente ainda não sancionadas como a pedofilia e o abuso de menores) como a Mulher Maravilha (o que é bom, porque poupará a geração que ora atinge a puberdade da prática malsã, que grassou em minha geração, de tocar punhetas para a Smurfette).

A hipótese de uma Diana fancha faz perfeito sentido histórico (Heródoto, afinal de contas, glosou páginas e páginas, com uma mão só, relatando a prática disseminada do tribadismo e do analingus entre as amazonas) e estético (sua Sarmátia natal, na atual Ucrânia, sendo o que de mais próximo existiu do Éden mitológico, sem a desvantagem de haver por lá Adões com a trosoba balangando ao correr dos bichos que rastejam). Exatamente por isso, é boa demais para ser verdade. Não: tendo em vista a arruacinha histérica com que o sr. DiDio anunciou e o público solicitante recebeu a notícia, infelizmente devemos esperar que o enredo ansiosamente aguardado em comarcas como Campinas, Porto Alegre e o Morumbi de fato envolva a fealdade atroz de pra-te-levas devastando lortos peludos. Envolver o Homem-Morcego nessa patacoada, por outro lado, tem o inconveniente de constituir apologia de fato criminoso, art. 287 do nosso Código Penal (ver o § 3º supra). De modo que o breakthrough tão festejado pelos degustadores de mangalhos muito provavelmente se limitará a um personagem menor desse universo. Minha aposta? Aguardem para breve a visão perturbadora do Lanterna Verde sendo submetido a impiedosa sessão de fist fucking pelo Dr. Octopus, que contempla as ranhuras de seus próprios tentáculos metálicos com a dúvida desalentadora: “Como é que eu vou fazer para lavar esta merda?”