BAITOLAGEM EM QUADRINHOS
Há poucos dias
a DC Comics, por meio de um editor esquisitão que assina um suspeitíssimo Dan
DiDio, anunciou que traria a público, em junho, que um de seus super-heróis encara quibes na contramão. Imediatamente se ouviu um álacre alarido de
gritinhos e guinchos. Os primeiros, naturalmente, dos perobos de todo o gênero,
que comemoram o saimento (do inglês outing)
de mais uma celebridade, o que a seus olhos torna mais respeitável o vício feio
de dar o cu. Os segundos, dos retardados de todas as idades, que há décadas
especulam se o Batman não arrebenta os entrefolhos do garoto Robin quando ninguém
está olhando, como se os dois personagens tivessem existência autônoma depois
do momento em que o leitor larga a porra do gibi.
Ora, muito
bem, a veneranda editora nova-iorquina houve por bem fazer graça com essas duas
constituencies tão numerosas entre
seu público pagante. Nesse contexto, é perfeitamente natural e legítimo que as
atenções se voltem a um marmanjo suspeitamente solteiro depois dos quarenta que
veste roupas justas de couro preto, tem um mordomo chamado Alfred, torce pelo
Fluminense e adotou como sobrinho um adolescente
malabarista. Este observador incréu, no entanto, lamenta ver-se forçado a
estragar a festa precipitada dos leitores que já se dirigem ao banheiro com a
revistinha do Batman debaixo do braço, enquanto besuntam de vaselina uma
berinjela hirta e preta. E observa que o sr. DiDio, ao contrário deste
comentarista vulgar, jamais falou em quibes e contramãos e, consultado por este blog,
recusou-se a esclarecer em termos categóricos se havia cu na parada. Ao contrário
-- reparai bem --, o sr. DiDio, perobo que é, disse apenas que a DC Comics revelará
que um de seus personagens é gay.
Muito bem: é
sabido que, entre os baitolos, o adjetivo ora empregado designa tanto os
perobos propriamente ditos como -- e este é o ponto central destas minhas
observações -- as fanchas e sapatas que, exatamente como o respeitável público,
apreciam enterrar o crânio numa xavasca alheia, hirsuta ou glabra. De modo que o
personagem de cuja homossexualidade se trata pode tanto ser o Batman (o que é
mau, porque envolve práticas felizmente ainda não sancionadas como a pedofilia
e o abuso de menores) como a Mulher Maravilha (o que é bom, porque poupará a
geração que ora atinge a puberdade da prática malsã, que grassou em minha geração,
de tocar punhetas para a Smurfette).
A hipótese de
uma Diana fancha faz perfeito sentido histórico (Heródoto, afinal de contas,
glosou páginas e páginas, com uma mão só, relatando a prática disseminada do
tribadismo e do analingus entre as
amazonas) e estético (sua Sarmátia natal, na atual Ucrânia, sendo o que de mais
próximo existiu do Éden mitológico, sem a desvantagem de haver por lá Adões com
a trosoba balangando ao correr dos bichos que rastejam). Exatamente por isso, é
boa demais para ser verdade. Não: tendo em vista a arruacinha histérica com que
o sr. DiDio anunciou e o público solicitante recebeu a notícia, infelizmente
devemos esperar que o enredo ansiosamente aguardado em comarcas como Campinas,
Porto Alegre e o Morumbi de fato envolva a fealdade atroz de pra-te-levas
devastando lortos peludos. Envolver o Homem-Morcego nessa patacoada, por outro
lado, tem o inconveniente de constituir apologia de fato criminoso, art. 287 do
nosso Código Penal (ver o § 3º supra).
De modo que o breakthrough tão festejado
pelos degustadores de mangalhos muito provavelmente se limitará a um personagem
menor desse universo. Minha aposta? Aguardem para breve a visão perturbadora do
Lanterna Verde sendo submetido a impiedosa sessão de fist fucking pelo Dr. Octopus, que contempla as ranhuras de seus próprios
tentáculos metálicos com a dúvida desalentadora: “Como é que eu vou fazer para
lavar esta merda?”