O BONEQUINHO VIU HOUSE OF CARDS... E TOCOU TREZE PUNHETAS
O leitor que me acompanha há uma
década sabe que eu sou um cavalheiro de gostos refinados, capaz de embevecer-me
até às lágrimas tanto com a audição da Vigília Noturna de
Sergei Rachmaninoff como com a redescoberta, no XHamster, da cena clássica em que o cu escuro e
sujo da srta. Jenny Cole é perfurado com precisão cirúrgica em Debbie does Dallas (1978). Muito pelo ecletismo de meus interesses artísticos — que, como se vê,
abarcam da pornografia à música erudita —, mas outro tanto, estou certo disso,
por um desejo recôndito de que eu lhes arrebente selvagemente os entrefolhos,
muito jornalista costuma assediar-me esperando pronunciamentos meus sobre o que
quer que esteja trending now (eles falam assim, revirando os olhinhos),
da telenovela ao analingus.
O leitor atento também terá
reparado que eu raramente condescendo em deixar publicarem os meus juízos
estéticos nos pasquins que, aqui no Brasil, fazem as vezes de imprensa.
Credite-se muito do meu silêncio à natural modéstia com que me pauto sempre que
o assunto em tela não são as dimensões da minha trosoba. No entanto, os chefes
de redação me ajudariam muito a ajudá-los se, em lugar do Fernando Rodrigues,
mandassem entrevistar-me a Fernanda Rodrigues,
que, desde os tempos de Malhação, tem muito melhor sintaxe,
vocabulário, concatenação de idéias, peitos, peida e xavasca do que o seu
quase-homônimo.
Isso não obstante, hoje me vejo
forçado a abandonar as sublimes leituras a que me vinha dedicando para compartilhar convosco, para ensinança do público
e escarmento da crítica, uma epifania estética que me acometeu no último fim de
semana. Andava eu em estado do mais completo emputecimento, ocasionado pelos
singulares ataques de pelanca em que se desfaziam uns filhos viados de um
vizinho enrustido, que comemoravam gol de time
estrangeiro na final da Copa dos Campeões Europeus (o que, o leitor há de
convir comigo, é comportamento de quem espera ter os intestinos ambos
preenchidos por uma bruta trosoba preta para daqui a, no máximo, quinze minutos).
Inspirado talvez em Borges — que optou por escancarar sua superioridade
intelectual proferindo palestra sobre a imortalidade na hora precisa em que a
Argentina disputava sua partida inaugural na Copa do Mundo de 1978 —, deliberei
eu tornar patente o meu interesse por cousas mais excelsas assistindo a um
filme de sacanagem na televisão. Como (a queixa é recorrente) minha senhora
cortou a minha assinatura do Sexy Hot
já há quase dez anos, tive de contentar-me com o sucedâneo mais à mão (a
esquerda, que a direita se entretinha em labores outros), e assim terminei
assistindo, de cabo a rabo, à série americana House of Cards.
Autores piores que eu já se terão
pronunciado sobre o enredo e sua verossimilhança, sobre a perspicácia e
exatidão com que a série retrata a profunda malaise (disseram assim, com
o dorso da mão na cintura) da civitas americana diante de um sistema
político cada vez mais corrompido pelo poder nefasto do dinheiro, mormente de Citizens
United v. Federal Elections Committee para cá, e pela conseqüente
incapacidade do referido sistema de extrair dos eleitos os anjos melhores de
sua natureza (como são piores que eu,
seguramente não citaram nem a jurisprudência, nem o fecho do primeiro discurso
de posse de Abraão Lincoln).
Pois muito bem: com a experiência
que acumulei nesta minha passagem por este vale de lágrimas e sumos vaginais,
descreio da eficácia dessa conversa-mole para aquilo que interessa, que é
garantir ao opinador pernóstico o acesso franco às xavascas da audiência. De
modo que o leitor formado em Ciência Política me escusará se, ao analisar a
obra, me limito a esmiuçar os seus méritos estritamente onanísticos. E,
neste particular, ouso dizer que a obra em questão é o que de melhor se
produziu, fora da indústria especializada, desde pelo menos O Nome da Rosa (mormente a cena em que
aparece o cu da Valentina Vargas).
O leitor que franze o sobrolho e
cofia os pêlos do cavanhaque enquanto enche o cachimbo de tabaco com sabor de
baunilha fará bem se, em lugar de questionar o meu juízo ilustrado, prestar a
atenção devida a cinco vagabundas fodibilíssimas que tornam a série um deleite
para os olhos e uma maratona para o jonjolo do expectador heterossexual.
(1) Comecemos por minha favorita:
a srta. Kate Mara — até aqui uma celebridade relativa que interpretara a filha
gostosa de um dos perobos em Brokeback
Mountain, além de uma cheerleader fancha
em Nip/Tuck — desempenha com louvor o
papel de Zoe Barnes,
uma jornalista vagabunda que usa a xavasca para conquistar fontes, notícias e a
ascensão funcional. O onanista leitor se deleitará, como eu me deleitei, com a
naturalidade com que a mocinha afeta inocência (usando rabo-de-cavalo, roendo
as unhas, vestindo-se de adolescente em suéter e jeans no ambiente de trabalho)
para com isso garantir o acesso à trosoba senil de patrões, âncoras e
deputados. A série infelizmente não o documenta de maneira exaustiva, mas fica
claro ao observador atento que a mocinha dá cu, se não com gosto, ao menos com
naturalidade e profissionalismo. Atenção à cena em que ela arreganha o furingo
para o deputado tirar fotos. (Nota aos editores da Folha: se quiserdes que eu abrilhante o vosso pasquim com meus
palpites ocasionais, é favor tentar convencer a srta. Patricia Campos Melo a usar os mesmos expedientes com a minha excelsa pessoa.)
(2) A segunda menção não faz
exatamente o meu gênero, diga-se de cara — prefiro prexecas mais jovenzinhas,
menos maltratadas pelo uso —, mas tem sido tão festejada nos círculos onanistas
que não poderia deixar de ser mencionada. A srª. Robin Wright interpretou Claire Underwood,
a consorte do protagonista deputado (e portanto filho da puta). Não vislumbro
ali peitos ou peida capazes de justificar mais do que oito punhetas, mas os aficionados
assinalam que a megera tem um je ne sais
quoi que é garantia de que ali se fode bem (ou, por outra, que é garantia
de que ela fode bem, ao menos no que
respeita ao aspecto puramente mecânico da foda). Há de ser verdade, embora a
insistência da augusta senhora em dar sovas de buceta num seu amante fotógrafo
(e portanto homossexual) esteja aí a indicar que tamanha energia represada tem
sido dissipada irresponsavelmente em trepadas perfeitamente insatisfatórias. Em
defesa da personagem, admito que as muitas insinuações (algumas bastante óbvias)
de que o relacionamento da srª. Underwood com o tribuno do povo consiste
basicamente em ela seviciá-lo horrivelmente com uma cintaralha preta e com
veias (isso ficou evidente, creio, na cena do ménage com o guarda-costas) ao menos demonstram ser ela dotada de um
mínimo de espírito cívico. É mais do que se pode dizer de toda a classe
política brasileira.
(3) Christina Gallagher (interpretada por Kirsten Connolly) é assessora parlamentar de um deputado
alcoólatra, toxicômano, putanheiro e careca. Suas funções consistem, portanto, em
limpar-lhe o vômito pendente do queixo, administrar-lhe supositórios de cocaína,
tirá-lo da cadeia quando é pego cheirando ou freqüentando primas e,
ocasionalmente, incutir-lhe um mínimo de amor-próprio aos gritos de "seja
macho, porra". Frustrada com a incompetência política e a inapetência
viril do patrão, acaba indo buscar pastagens mais verdes junto à primeira
trosoba do mundo livre. Fode pouco, e é pena. Pela carinha de devassidão
contida, bem poderia proporcionar-nos ao menos um par de espanholas finalizadas com o pearl necklace regulamentar.
(4 e 5) A puta e a evangélica ou,
por outra, Rachel Posner (Rachel Brosnahan) e Lisa Williams (Kate Lyn Sheil). Recomendo ao amigo leitor passar ao largo dos episódios em
que a primeira de nossas heroínas exerce a prostituição por quaisquer três
vinténs nas ruas e hotéis do Distrito de Colúmbia e atende pelo alias de Sapphire. A coisa começa a
melhorar quando, desintoxicada e de cara lavada, a putinha vai-se exilar na
Virgínia profunda e lá conhece a evangélica fudeca, de violão em punho para cantar
que yes, we gather by the river, the
beautiful, the beautiful river. Com a prexeca em chamas pela prática da
abstinência, a mocinha entrega-se gostosamente ao amor fancho, que
aparentemente não é pecado (aliás, atenção, sapatas do nosso Brasil: o que as
senhoritas fazem, com o ar de quem pratica enormes transgressões, é absolutamente
irrelevante do ponto de vista religioso, tanto assim que não há uma única
referência ao tribadismo ou ao chupar bucetas nas proibições em numerus clausus do Levítico e
Deuteronômio — ao contrário da pederastia, que é abominação). O ponto alto da
série é a cena em que a putinha enfia quatro dedos da mão, até a terceira
falange, na xavasca da crente, e a fode com tamanha maestria e vigor que o
espectador ilustrado não pode deixar de fazer a associação livre com as Fucking Machines do site homônimo.
Segundo nos garante a crônica policial,
a série causou furor em Brasília, onde os homens públicos se sentem
perfeitamente redimidos com a demonstração tão gráfica de que são todos
carmelitas descalças diante do que se pratica em democracias mais evoluídas do
que a nossa. Dizem até que a série é a favorita da presidente Dilma Rousseff.
Tendo em vista, no entanto, a sofisticação intelectual de nossa primeira mandatária
— comparável à daquele seu antecessor-general que entrou para a Academia Brasileira de Letras porque um dia sentou pelado num
monte de farinha e fez um O com o cu —, tenho cá a suspeita de que ela aprecia
a série pelos mesmos motivos que eu.