OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

30 maio 2014

O BONEQUINHO VIU HOUSE OF CARDS... E TOCOU TREZE PUNHETAS

O leitor que me acompanha há uma década sabe que eu sou um cavalheiro de gostos refinados, capaz de embevecer-me até às lágrimas tanto com a audição da Vigília Noturna de Sergei Rachmaninoff como com a redescoberta, no XHamster, da cena clássica em que o cu escuro e sujo da srta. Jenny Cole é perfurado com precisão cirúrgica em Debbie does Dallas (1978). Muito pelo ecletismo de meus interesses artísticos — que, como se vê, abarcam da pornografia à música erudita —, mas outro tanto, estou certo disso, por um desejo recôndito de que eu lhes arrebente selvagemente os entrefolhos, muito jornalista costuma assediar-me esperando pronunciamentos meus sobre o que quer que esteja trending now (eles falam assim, revirando os olhinhos), da telenovela ao analingus.

O leitor atento também terá reparado que eu raramente condescendo em deixar publicarem os meus juízos estéticos nos pasquins que, aqui no Brasil, fazem as vezes de imprensa. Credite-se muito do meu silêncio à natural modéstia com que me pauto sempre que o assunto em tela não são as dimensões da minha trosoba. No entanto, os chefes de redação me ajudariam muito a ajudá-los se, em lugar do Fernando Rodrigues, mandassem entrevistar-me a Fernanda Rodrigues, que, desde os tempos de Malhação, tem muito melhor sintaxe, vocabulário, concatenação de idéias, peitos, peida e xavasca do que o seu quase-homônimo.

Isso não obstante, hoje me vejo forçado a abandonar as sublimes leituras a que me vinha dedicando para compartilhar convosco, para ensinança do público e escarmento da crítica, uma epifania estética que me acometeu no último fim de semana. Andava eu em estado do mais completo emputecimento, ocasionado pelos singulares ataques de pelanca em que se desfaziam uns filhos viados de um vizinho enrustido, que comemoravam gol de time estrangeiro na final da Copa dos Campeões Europeus (o que, o leitor há de convir comigo, é comportamento de quem espera ter os intestinos ambos preenchidos por uma bruta trosoba preta para daqui a, no máximo, quinze minutos). Inspirado talvez em Borges — que optou por escancarar sua superioridade intelectual proferindo palestra sobre a imortalidade na hora precisa em que a Argentina disputava sua partida inaugural na Copa do Mundo de 1978 —, deliberei eu tornar patente o meu interesse por cousas mais excelsas assistindo a um filme de sacanagem na televisão. Como (a queixa é recorrente) minha senhora cortou a minha assinatura do Sexy Hot já há quase dez anos, tive de contentar-me com o sucedâneo mais à mão (a esquerda, que a direita se entretinha em labores outros), e assim terminei assistindo, de cabo a rabo, à série americana House of Cards.

Autores piores que eu já se terão pronunciado sobre o enredo e sua verossimilhança, sobre a perspicácia e exatidão com que a série retrata a profunda malaise (disseram assim, com o dorso da mão na cintura) da civitas americana diante de um sistema político cada vez mais corrompido pelo poder nefasto do dinheiro, mormente de Citizens United v. Federal Elections Committee para cá, e pela conseqüente incapacidade do referido sistema de extrair dos eleitos os anjos melhores de sua natureza (como são piores que eu, seguramente não citaram nem a jurisprudência, nem o fecho do primeiro discurso de posse de Abraão Lincoln).

Pois muito bem: com a experiência que acumulei nesta minha passagem por este vale de lágrimas e sumos vaginais, descreio da eficácia dessa conversa-mole para aquilo que interessa, que é garantir ao opinador pernóstico o acesso franco às xavascas da audiência. De modo que o leitor formado em Ciência Política me escusará se, ao analisar a obra, me limito a esmiuçar os seus méritos estritamente onanísticos. E, neste particular, ouso dizer que a obra em questão é o que de melhor se produziu, fora da indústria especializada, desde pelo menos O Nome da Rosa (mormente a cena em que aparece o cu da Valentina Vargas).

O leitor que franze o sobrolho e cofia os pêlos do cavanhaque enquanto enche o cachimbo de tabaco com sabor de baunilha fará bem se, em lugar de questionar o meu juízo ilustrado, prestar a atenção devida a cinco vagabundas fodibilíssimas que tornam a série um deleite para os olhos e uma maratona para o jonjolo do expectador heterossexual.

(1) Comecemos por minha favorita: a srta. Kate Mara — até aqui uma celebridade relativa que interpretara a filha gostosa de um dos perobos em Brokeback Mountain, além de uma cheerleader fancha em Nip/Tuck — desempenha com louvor o papel de Zoe Barnes, uma jornalista vagabunda que usa a xavasca para conquistar fontes, notícias e a ascensão funcional. O onanista leitor se deleitará, como eu me deleitei, com a naturalidade com que a mocinha afeta inocência (usando rabo-de-cavalo, roendo as unhas, vestindo-se de adolescente em suéter e jeans no ambiente de trabalho) para com isso garantir o acesso à trosoba senil de patrões, âncoras e deputados. A série infelizmente não o documenta de maneira exaustiva, mas fica claro ao observador atento que a mocinha dá cu, se não com gosto, ao menos com naturalidade e profissionalismo. Atenção à cena em que ela arreganha o furingo para o deputado tirar fotos. (Nota aos editores da Folha: se quiserdes que eu abrilhante o vosso pasquim com meus palpites ocasionais, é favor tentar convencer a srta. Patricia Campos Melo a usar os mesmos expedientes com a minha excelsa pessoa.)

(2) A segunda menção não faz exatamente o meu gênero, diga-se de cara — prefiro prexecas mais jovenzinhas, menos maltratadas pelo uso —, mas tem sido tão festejada nos círculos onanistas que não poderia deixar de ser mencionada. A srª. Robin Wright interpretou Claire Underwood, a consorte do protagonista deputado (e portanto filho da puta). Não vislumbro ali peitos ou peida capazes de justificar mais do que oito punhetas, mas os aficionados assinalam que a megera tem um je ne sais quoi que é garantia de que ali se fode bem (ou, por outra, que é garantia de que ela fode bem, ao menos no que respeita ao aspecto puramente mecânico da foda). Há de ser verdade, embora a insistência da augusta senhora em dar sovas de buceta num seu amante fotógrafo (e portanto homossexual) esteja aí a indicar que tamanha energia represada tem sido dissipada irresponsavelmente em trepadas perfeitamente insatisfatórias. Em defesa da personagem, admito que as muitas insinuações (algumas bastante óbvias) de que o relacionamento da srª. Underwood com o tribuno do povo consiste basicamente em ela seviciá-lo horrivelmente com uma cintaralha preta e com veias (isso ficou evidente, creio, na cena do ménage com o guarda-costas) ao menos demonstram ser ela dotada de um mínimo de espírito cívico. É mais do que se pode dizer de toda a classe política brasileira.

(3) Christina Gallagher (interpretada por Kirsten Connolly) é assessora parlamentar de um deputado alcoólatra, toxicômano, putanheiro e careca. Suas funções consistem, portanto, em limpar-lhe o vômito pendente do queixo, administrar-lhe supositórios de cocaína, tirá-lo da cadeia quando é pego cheirando ou freqüentando primas e, ocasionalmente, incutir-lhe um mínimo de amor-próprio aos gritos de "seja macho, porra". Frustrada com a incompetência política e a inapetência viril do patrão, acaba indo buscar pastagens mais verdes junto à primeira trosoba do mundo livre. Fode pouco, e é pena. Pela carinha de devassidão contida, bem poderia proporcionar-nos ao menos um par de espanholas finalizadas com o pearl necklace regulamentar.

(4 e 5) A puta e a evangélica ou, por outra, Rachel Posner (Rachel Brosnahan) e Lisa Williams (Kate Lyn Sheil). Recomendo ao amigo leitor passar ao largo dos episódios em que a primeira de nossas heroínas exerce a prostituição por quaisquer três vinténs nas ruas e hotéis do Distrito de Colúmbia e atende pelo alias de Sapphire. A coisa começa a melhorar quando, desintoxicada e de cara lavada, a putinha vai-se exilar na Virgínia profunda e lá conhece a evangélica fudeca, de violão em punho para cantar que yes, we gather by the river, the beautiful, the beautiful river. Com a prexeca em chamas pela prática da abstinência, a mocinha entrega-se gostosamente ao amor fancho, que aparentemente não é pecado (aliás, atenção, sapatas do nosso Brasil: o que as senhoritas fazem, com o ar de quem pratica enormes transgressões, é absolutamente irrelevante do ponto de vista religioso, tanto assim que não há uma única referência ao tribadismo ou ao chupar bucetas nas proibições em numerus clausus do Levítico e Deuteronômio — ao contrário da pederastia, que é abominação). O ponto alto da série é a cena em que a putinha enfia quatro dedos da mão, até a terceira falange, na xavasca da crente, e a fode com tamanha maestria e vigor que o espectador ilustrado não pode deixar de fazer a associação livre com as Fucking Machines do site homônimo.

Segundo nos garante a crônica policial, a série causou furor em Brasília, onde os homens públicos se sentem perfeitamente redimidos com a demonstração tão gráfica de que são todos carmelitas descalças diante do que se pratica em democracias mais evoluídas do que a nossa. Dizem até que a série é a favorita da presidente Dilma Rousseff. Tendo em vista, no entanto, a sofisticação intelectual de nossa primeira mandatária — comparável à daquele seu antecessor-general que entrou para a Academia Brasileira de Letras porque um dia sentou pelado num monte de farinha e fez um O com o cu —, tenho cá a suspeita de que ela aprecia a série pelos mesmos motivos que eu.