OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

02 outubro 2014

DA VIDA SEXUAL NO CANGAÇO



Mocetões: esta manhã, enquanto eu perscrutava, com olhar de proctologista, as fotos do cu da arqueira ianque Hope Solo (parênteses: ¡viva o desporto feminino!, ou algum dos senhores acharia graça em fotos do lorto do goleiro Cássio, do Curíntia, que reputo, talvez, quase tão feio quanto seus cornos?) — enquanto eu perscrutava as tais fotos, dis-je, deparei-me com uma dessas notícias que, quase tanto quanto comentário de leitor em site de jornal, dão a medida justa de nossa miséria. Segundo me informa o site da Veja, está no prelo, obra dum juiz aposentado, uma biografia do delinqüente Lampião onde se sustenta que o famoso Rei do Cangaço apreciava mesmo era uma trosoba hirta e cheia de espinhos (à maneira das cactáceas de sua caatinga natal) a magoar-lhe furiosamente os entrefolhos, mais do que já estaria magoado pelos restalhos duma dieta a base de bodes e carcarás.

Mais: a notícia dá conta de que uma popular resolveu entrar em juízo para impedir a publicação da obra, movida talvez por essa tendência que viceja entre nós de tratar bandido como prócer, e de achar que obra nenhuma pode tirar os próceres de seus pedestais.

Ora, muito bem. Duas cousas me estarrecem nessa patacoada: (1) que alguém, não sendo descendente direto do bandido, ou mesmo sendo-o, foda-se, tenha legitimidade ativa para propor uma ação dessas (e reparem que nem chego a discutir o mérito da causa); e (2) que qualquer um (e creio-me insuspeito de fazer apologia de bandido) possa questionar a heterossexualidade dum sujeito que tinha pica e estômago para comer a Maria Bonita. Ora, caralhos ma fodam, comer a Marina Ruy Barbosa ou a Emma Watson qualquer um come — até viado, sem demasiadas demonstrações de nojo. O verdadeiro teste de masculinidade, a verdadeira audição para o papel de Groo, o Errante, está no encarar uma fêmea do quilate justamente da Maria Bonita ou da Miriam Leitão.

Aliás, há uma terceira cousa a embasbacar-me nesse episódio: que haja, no Brasil, público para ler (nem falemos de autores para escrever) uma obra de 300 páginas sobre a vida sexual dum bandido feio pra caralho com uma fêmea idem e outras duas dezenas de machos com os mesmos predicados. Seria de perder o sono imaginar que o Dr. Pedro de Morais, autor da obra, even as we speak, pode estar tratando do licenciamento da versão cinematográfica (em breve num cinema perto de você).

Ah, sim, antes que eu me esqueça: cada povo tem a Bonnie and Clyde que merece.