OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

06 maio 2015

DA VIDA SEXUAL DAS SUBCELEBRIDADES. CAPÍTULO DOIS: SIMONY GALASSO.

O leitor amigo anuirá gravemente, enquanto torna a mergulhar o sushi de quinoa no molho de miso e gergelim, se eu asseverar que a Internet é uma fonte de horrendas distrações, que no mais das vezes tornam impossível nos dedicarmos a sério a qualquer cousa de mais elevado. Concordará, decerto, pensando n’algum vídeo retrô dos Menudos pré-adolescentes a velejar em camisetas sem manga e de shortinho, as pernocas glabras à mostra, e enjeitando enfastiado a nova tradução de Morte em Veneza que comprou na Argumento do Leblon (indicação de Manoel Carlos). Eu mesmo já relatei, alhures, minha suprema indecisão quando confrontado, no mesmo dia, com uma gravação completa e gratuita da Vigília Noturna de Rachmaninoff e com a reprodução igualmente completa e igualmente gratuita do clássico Debbie does Dallas  (mormente, permiti-me precisar na ocasião, a cena em que um desses heróis anônimos daquela indústria vital perfura o cu escuro e sujo da srta. Jenny Cole).

Entre les deux mon cœur balance, sentenciará o leitor, com uma piscadela cúmplice e uma pausa quase imperceptível entre o mon e o cœur, como que a buscar o meu endosso à equivalência que afinal se estabeleceu — malgré moi, acrescentará, sempre na língua de Gide — entre Mann e Ricky Martin, de um lado, e Rachmaninoff e Bambi Woods, de outro.

Toda esta conversa-mole vem à guisa de introdução para o que se segue: ontem, quando eu me preparava para retomar a minha própria tradução, do latim, das Confissões de Santo Agostinho, fui interrompido da maneira mais descortês por uns leitores que, mais que implorar, exigiam um pronunciamento meu sobre matéria publicada no Ego, um site dedicado a escancarar vidas e xavascas de subcelebridades.

A matéria em questão trata, como o amigo leitor nunca viu e preferia aliás não saber, das intimidades conjugais da ex-cantora e ex-gorda Simony Galasso com o engenheiro (o site qualifica-o assim) Patrick Silva. Simony, se puxarmos bem pela memória, era a única fêmea no foursome infantil Balão Mágico, que em vão assegurava, lá se vão três décadas, que somos amigos, amigos, amigos — o telespectador atento já percebia que ali, malgrado a tenra idade dos participantes, tinha de haver sacanagem: as bolsas de apostas limitavam-se a especular sobre se quem comia o cu à saltitante Simony era o filho do bandido, o filho do Jair Rodrigues, o bestial Fofão (hipótese que eu à época favorecia) ou o perfeitamente inútil Toby ( Vímerson). Como esse material humano justificasse poucas punhetas, mesmo entre os coetâneos de Simony, a Globo acabou substituindo o programa pelo muito mais proveitoso Xou da Xuxa, duplicando a audiência nesse processo (os senhores pais, afinal de contas, tomaram-se de interesse súbito pelos hábitos televisivos dos filhos, e foram recompensados com farto material para punhetas não apenas na srta. Meneghel, mas também em suas Paquitas — sobretudo a Andréa Sorvetão e a Pituxa Pastel [a Miúxa não] — e, se fôlego restasse, também na Cheetara, na She-Ra e na Smurfette).

Simony, entrementes, caiu no mais sólido anonimato, de onde debalde buscou sair, a partir de fins dos noventa, fazendo-se periodicamente emprenhar por presidiários. Passaram-se outros quinze anos, e eis que a já balzaquiana subcelebridade reaparece, diante de nossas barbas perplexas, confessando-se ex-gorda e casada com um colega engenheiro, e no pleno exercício do pátrio poder sobre uma caralhada de crianças ranhentas com ípsilon no nome. Mais: sem demasiados circunlóquios, diz que, desde que perdeu 25 quilos, passou a foder “em todas as posições” com o engenheiro (palavras textuais suas); que seu macho passou a dar-lhe surras de piroca históricas (paráfrase minha); que os dois apreciam tanto quanto eu ver filmes de sacanagem (não elaborou a respeito, de modo que ficamos sem saber se o casal favorece obras com gang bang, A2M e espôrros faciais ); e, por fim, que “nunca gostou” de sexo grupal (decerto buscando, com isso, dissipar de uma vez os rumores irresponsáveis sobre a real natureza de seu relacionamento com Jairzinho, Mike, Toby e Fofão — ao que eu, espírito de porco que sou, me permito chamar a vossa atenção para a formulação um tanto equívoca: “nunca gostei”).

Tudo isso, vindo de quem vem, me pareceria perfeitamente natural e até escusável, não fossem três pequeníssimos detalhes que a peralta Simony deixa transcender quase que sem querer: a folhas tantas de sua confissão (digo folhas e não sei se o pasquim de fato existe em forma impressa, para limpar as manchas de esperma do azulejo do banheiro onde se lê essa merda) — a folhas tantas, dizia, Simony deixa claro que o engenheiro é fissurado em cu (“ele ama meu bumbum”); que, enquanto a sodomiza brutalmente, as bolas a fazer tlec-tlec-tlec nas nádegas, admira-lhe a musculatura rija (“ele adora brincar com meus novos músculos”); e, por fim, que o que nela não aprecia de jeito nenhum são as tetas a balangar ao sabor da foda (“ele acha que está excessivo”).

Como se nada disso bastasse, há ainda um quarto elemento a merecer a nossa censura mais enfática e inapelável: enquanto a fode, o engenheiro Silva canta obras de um desses sambistas que desde sempre (ou desde Jair Rodrigues Jr.) fizeram a cabeça e umedeceram a xavasca à inefável Simony. Quer-me parecer que, não sendo ele próprio sambista, o procedimento revela uma propensão perigosa à cornitude. Mas passemos ao largo desse detalhe pitoresco e concentremo-nos no quadro que as confissões de Simony nos permitem compor: o sujeito gosta de cu (o que é louvável), mas se e somente se o parceiro tiver pernas, braços e abdômen torneados, e de preferência peitos nenhuns (o que não é).

Os senhores tirarão disso tudo as conclusões que quiserem. Eu, de minha parte, estou encaminhando esse material ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, para as providências cabíveis.