OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

21 outubro 2005

Reagindo à diversidade

Dia desses, enquanto eu escalavrava o catramelo para a Renata Vasconcellos do Bom Dia Brasil, o carteiro jogou por baixo de minha porta um envelopinho cor-de-rosa selado com uma estampilha comemorativa dos cem anos do Fluminense Football Club. Achei que ele pudesse ter-se enganado de porta, já que no apartamento ao lado mora um antropólogo que vive com um sobrinho de dezenove anos — ambos, o leitor há de convir comigo, destinatários mais prováveis de um envelope com essa aparência do que este insuspeito apreciador de buçanhas.

E, no entanto, era o meu santo nome o que figurava no campo destinatário.

Abri a correspondência com certa desconfiança, temeroso de que dali pudesse sair um convite para um vernissage, um aviso de que eu passaria a receber, de graça, as próximas seis edições da revista Arquitetura & Construção ou, pior ainda, de que dali saltasse uma hirsuta trosoba hirta e cheia de veias.

Mais uma vez, a realidade provou ser ainda mais feia do que minha imaginação.

Era um cartão de um colega de trabalho, um sujeito esquisitão de cavanhaque que faz spinning e aprecia jazz. No cartão, um desenho da Rena do Nariz Vermelho saltitando para fora de um guarda-roupa de menina. O texto notificava que o signatário resolvera "sair do armário" e dava ciência a todos de sua "orientação sexual".

Imediatamente, fui ao baú onde guardo minhas revistas de sacanagem e passei mais de três horas num laborioso exercício de recorte e colagem. Montei um bonito painel onde abundavam furingos femininos recém perfurados, colegiais de sainhas escocesas mamando caralhas de dimensões consideráveis, lésbicas contorcionistas em inverossímeis posições de tribadismo, bucetões felpudos das mais diversas variedades, etnias e envergaduras e uma ou duas imagens de moçoilas submetidas à experiência pouco higiênica do facial cumshot. Botei o resultado num envelope e mandei entregar na casa do meu colega pederasta.

O perobo não gostou. No dia seguinte, quando eu me dispunha a convocar uma de minhas estagiárias de Comunicação da PUC para treiná-la na prática do deep throat, o baitolo interrompeu o ponto do croché e entrou em minha sala para tirar satisfações, com o dorso da mão na cintura. Perguntou-me a razão de eu enviar-lhe tamanha grosseria pelo correio.

Expliquei-lhe paciente e didaticamente o seguinte: que eu respeito sua "orientação sexual"; que acho que ele tem o direito inalienável de fazer o que bem entender de seu anel rugoso, inclusive dá-lo, emprestá-lo, alugá-lo, cedê-lo em leasing ou comodato ou qualquer outra forma de alienação prevista na legislação civil e/ou comercial vigente; que, no entanto, o que ele faz entre quatro paredes com um ou mais marmanjos barbudos não é de minha conta, e que eu, homem casto de vida regrada, tenho o direito de me sentir ofendido ao tomar conhecimento desnecessariamente das preferências sexuais de outrem; que, no final das contas, o que ele fez ao mandar-me o cartão do Bambi saindo do armário nada mais era do que comunicar-me que ele aprecia um jonjolo fumegante a magoar-lhe a parede interior dos intestinos; e que, portanto, se ele tinha o direito de compartilhar tais intimidades comigo, eu também me sentia no direito de compartilhar com ele minhas predileções por rosáceos cus femininos, xavascas felpudas e mulheres que aceitam de bom grado um jato de esperma nos olhos (os do rosto).

A Companhia agora estuda a possibilidade de submeter-nos todos a um curso de sensibilização à diversidade sexual. Não entendi bem do que se trata, mas suspeito que tenha a ver com sacanagem. Devem ter ficado deveras impressionados com a diversidade de práticas com que ilustrei o meu painel.

13 outubro 2005

Da completude da condição feminina

Não sei se meus leitores terão percebido, mas este autor é um sujeito bastante inocente em matéria de sexo. Fodo com regularidade e competência, é certo, mas, desde que minha senhora cortou minha assinatura do Sexy Hot, tenho andado um tanto desatualizado no que concerne à putaria encarada de maneira mais profissional e científica.

Exemplo disso foi minha estupefação ao receber de um amigo putanheiro o seguinte anúncio de uma prestadora de serviços do Rio de Janeiro. Como o sodomita leitor poderia perceber por si próprio se não estivesse ocupado demais besuntando em vaselina uma berinjela hirta e preta, a moça acrescenta às informações regulamentares nesse tipo de anúncio (altura, peso, cor dos cabelos e dos pêlos pubianos e anais) a garantia de que é completinha.

“Caralhos que me fodam”, pensei cá com os meus botões. Eu sou do tempo em que as “primas” competentes faziam uma completa, e não eram completas. Noutras palavras, a foda — não a fodedora — é que era completa.

(Entre parênteses, registre-se que parei de freqüentar putas desde que me dei conta de que me saía muito mais barato pagar um michê fixo, mensal, às estagiárias de Direito e Comunicação da PUC. Fecha parênteses.)

Esse diminutivo, não obstante, e a concordância nominal aí evidente fizeram-me pensar muito sobre a condição feminina. Não sei se meus leitores terão percebido, mas este autor tem especial predileção por cus (femininos, bem entendido). Fodo e até chupo bucetas com entusiasmo e sofreguidão, e nem me importo muito em passar uns dois dias com uma mecha de pentelhos a irritar a garganta, mas minha preferência é mesmo enterrar a trosoba num rosáceo lorto feminil — que pode também ser cinza ou marrom, não importa (lilás não).

Ora, para um apreciador de cus femininos, nada há de mais irritante do que a mulher que se convenceu de que dar o cu é coisa de vagabunda ou, pior, de viado. A prostitutas dessa estirpe, eu não digo mais do que a célebre frase dum amigo meu, que costuma pontificar coisas assim em ceias de ano novo, velórios e bazares de igreja: “Buceta eu como por caridade; meu negócio é cu.

Muito bem. A constatação de que as profissionais que dão o cu agora se definem como completas ou completinhas garante renovado ânimo a este persistente desbravador de furingos. O juízo de valor que as moças fazem de si próprias fornece-nos um argumento não despiciendo para convencer as parceiras a virar de bruços e a brincar de Marlon Brando e Maria Schneider.

A leitora que encosta a bunda na parede já percebeu aonde eu quero chegar (além de a seu brioco). Se a mulher que dá o cu pode legitimamente qualificar-se de completa, a mulher que não aceite um jonjolo fumegante no anel rugoso é forçosamente uma mulher incompleta. É defeito tão grave quanto a hipertrofia do clitóris, a pilosidade excessiva ou o torcer por time distinto ao do marido, amo e senhor.

Espero réplicas.