OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

06 março 2006

Cartas à redação II: do fundamentalismo baitolo

Caro Pascucci,

A leitura curiosa e aprazível de suas dissertações públicas faz-me acreditar ter encontrado um profundo conhecedor dos temas mais prementes à sociedade contemporânea atual, quais sejam os assuntos concernentes a xavascas (de todos os tipos, sabores e profundezas), assim como dos anéis rugosos, mormente os femininos. Diante de ensaios tão embasados teórica e empiricamente, não seria exagero qualificá-lo como um fenomenólogo de prexecas e briocos, um Merleau-Ponty dos cús.

Isto posto, gostaria de submeter a sua apreciação um tema dos mais aflitivos à convivência pacífica entre os heterossexuais convictos e os concessores de garupa, boiolas e viados em geral: o fundamentalismo brioquista.

Ao contrário do que pregam em discursos, eventos patrocinados por ONGs, passeatas na Farme de Amoedo e sessões de "Brokeback Mountain" (aliás, curioso como um filme sobre vaqueiros viadinhos faça alusão a um lugar que, em tradução livre, poderia ser chamado de "Montanha da Dor nas Costas"), enfim, ao contrário do que pregam publicamente, os membros ativos e passivos da comunidade gay não defendem a convivência harmoniosa entre pessoas de diferentes opções sexuais, leia-se, entre heteros que obedecem aos ditames da natureza, de um lado, e pervertidos em geral de outro, preferencialmente distante. Pregam sim a aniquilação silenciosa e progressiva, o extermínio sistemático de todo aquele que prefere a suculenta poesia de um clitóris violáceo a um mastruço veiudo a rasgar-lhe as entranhas.

A hipótese do fundamentalismo brioquista se baseia numa constatação simples, uma similaridade comportamental entre o fundamentalista islâmico e o adorador de jebas. O crente se entrega a Deus, encontra a luz e passa a querer evangelizar toda a humanidade. O boiola se entrega à sevícia de um catramelo, vê estrelas, e passa a querer catequizar todo vivente ao (na opinião dele) deleite do arrombamento esfincteriano, como se a salubérrima prática do heterossexualismo fosse coisa tão antiquada quando a gravata borboleta (para não usar termos como out, demodé e outros de inconteste pederastia).

Recorro, pois, à sua sabedoria e experiência para desenvolver o tema e auxiliar os integrantes da nossa espécie, a dos heterossexuais, a lidar com essa tendência quase fascista. Devemos buscar o convívio com a diferença ou partir para o confronto armados de archotes em expedições punitivas?


MINHA RESPOSTA:

Antes de mais nada, este humilde fenomenólogo da sacanagem deseja agradecer de público o epíteto de Merleau-Ponty dos cus. É muito gratificante ver o nosso trabalho assim reconhecido e respeitado, e oxalá que o novel cartão de apresentação sirva ao menos para incrementar a quantidade de briocos femininos que o meu bravo jonjolo tem perfurado nestas minhas investigações.

Sobre o fundo da questão, estou plenamente de acordo em que há um certo quê de fundamentalismo -- quiçá de fascismo -- nas atuais manifestações públicas dos que cultivam o hábito de agasalhar pra-te-levas com o esfíncter. Comprova-o, justamente, toda a histeria criada em cima desse filme sobre vaqueiros pederastas, que só não ganhou o Oscar porque a premiação seria a comprovação definitiva da desconfiança popular de que em Hollywood todo o mundo aprecia mesmo é uma trosoba hirta, fumegante, cheia de veias e pendente para o lado esquerdo (coisa pouca, uns 30º) a magoar-lhe brutalmente os intestinos grossos e possivelmente os delgados (exceção feita, talvez, à Jodie Foster, que, segundo consta, prefere caralhas de plástico azul com a cabeça roxa).

Não sei se o amigo concordará comigo, mas a mim me parece redundante, desproporcional e iníquo isso de os perobos virem impingir-nos um filme laudatório a suas preferências porcas.

Redundante porque, se produziram o filme apenas pelo gosto pictórico de ver em cinemascope uma estrovenga adentrando lorto peludo alheio, bastava que alugassem qualquer filme de sacanagem exclusivamente pederasta e o projetassem em qualquer telão de sauna, e apenas para o público interessado.

Desproporcional porque nós outros, heterossexuais, quase nunca esmiuçamos, em nossos filmes, os detalhes das fodas que praticamos -- exceção feita à enrabada do Marlon Brando na Maria Schneider, em O último tango em Paris, e ao laborioso e sôfrego cunnilingus que o Basílio executa no bucetão felpudo de Luísa, no roteiro de minha autoria de O primo Basílio (em breve num cinema perto de você). Em contraste com esse nosso decoro e economicidade no retratar fodas, em toda relação homossexual está implícito que alguém come o cu de alguém, de modo que Brokeback Mountain nada mais é do que uma apologia desbragada de uma modalidade sexual que não tem por que merecer mais cartaz do que as práticas de chupar cus, engolir esperma ou enfiar o punho cerrado na xavasca da parceira.

Por fim, iníquo porque, com toda essa conversa fiada sobre minorias e o papel libertador do filme do pederasta vietcongue, o sujeito que, nos dias que correm, queira enfiar o marzápio em qualquer universitária semipolitizada (meu caso) terá de submeter-se a duas horas dessa pouca-vergonha num cinema mal freqüentado ou então ficará em casa na execução cuidadosa de suas punhetas para a Christiane Pelajo do Jornal da Globo (meu caso).

Comprovada a existência do fundamentalismo perobo, que resta a fazer a mim e a você, indivíduos de predileções sexuais ortodoxas como bater com a trosoba no rosto da parceira e limpar o pau na cortina? Sou avesso a dar porradas, ainda que merecidas, na perobagem que circula por aí de mãos dadas e roupas de couro. Além do perigo de os putos se apaixonarem, parece que tais represálias são ilegais.

Cosa fare, então? Como o amigo poderá constatar, eu tenho preferido a galhofa. Para cada cartãozinho que recebo de colegas e conhecidos que saíram do armário, eu mando de volta um cartão retratando minhas próprias preferências sexuais, sempre envolvendo rosáceos furingos femininos, bucetões felpudos e colegiais de sainhas escocesas (ver Reagindo à diversidade). Uma vez terminado o concurso, por mim idealizado, para a concepção de uma bandeira dos chupadores de bucetas, pretendo que, para cada Ford Ka ou Xsara Picasso que ostentar a baitolíssima rainbow flag, haja pelo menos uns três Gols ou Pajeros com o nosso próprio estandarte.

E assim vamos. É questão de ocupar o nosso espaço e não arredar um milímetro a esses entubadores de mangalhos.

E matriculemos nossos filhos num puteiro de confiança aos doze anos de idade, por via das dúvidas

Cartas à redação I: da associação entre a pederastia e o Fluminense Football Club

Caro Olavo,

Reparo que em seus respeitáveis escritos existe uma associação entre a perobagem e o fluminense football club. Não me sinto atingido por tal associação, visto que meu time do coração é o alvinegro carioca. Porém, estatisticamente, tenho reparado que outra tendência é muito mais forte.

Suponho que um cientista de putaria respeitável como V.sa há de dar valor a correções e observações sobre seu trabalho. Sei que além de putaria, o senhor estuda o curioso comportamento dos tchollas e das lésbicas.

O fato é o seguinte: Posso seguramente dizer que os perobos que tenho o desprazer de me deparar são rubro-negros de carteirinha. Muitos a-do-ram usar o uniforme deste time dando nós na parte frontal da vestimenta para deixar a barriguinha à mostra. Só pra falar dos famosos, tentarei exemplificar. Conhece o "Lacraia", dançarino(a) de funk? Já viu uma foto deste baitola, amplamente divulgada na internet, com a camisa do flamengo e shortinho, dançando sobre uma mesa de praça? (tenho tanto nojo de funkeiros quanto de perobos). Sem falar que sempre que vem ao brasil, baitolas como Michael Jackson e George Michael adoram vestir a camisa do flamengo durante os shows.

O senhor conhece a existêcia da torcida FLAGAY? Segue um texto que encontrei na internet, escrito por um perobo anônimo, para a sua análise:

(...) Junte a isso tudo o fato de que a rapaziada roqueira de hoje em dia é muuuuuuuito machista. Os saradões acham que é justíssimo bater em viados pois eles ficam zoando na rua, dando gritinhos, sacolé? E há essa homofobia na cidade em que uma torcida de futebol chama-se Flagay. Eu tenho o maior orgulho da Flagay. E soube no Rio, foi publicado em um jornal, que as outras torcidas estavam pensando em dar umas porradas nas bibas se elas fossem ao Maraca. o estádio anda às moscas pois ninguém quer ver o Mengão apanhar e os homofóbicos ainda querem enxotar as bonecas de lá. Pois eu voto por um estádio cheio de crianças, senhores e senhoras, mães com bebês e bibas, sapatas, por que não? Mas esse é o Rio que anda perdendo a voz.

Aguardo uma resposta, seja uma mudança de opinião ou uma explicação para o fenômeno.

Rafael S.

MINHA RESPOSTA:

Prezado Rafael:

Que existe associação entre o hábito de dar o cu e o de torcer pelo Fluminense me parece coisa intuitiva, indigna de maiores investigações. V. Exª. há de concordar comigo que a experiência cotidiana corrobora a constatação popular de que "todo viado que eu conheço é tricolor". De mais a mais, que me conste, o Fluminense é o único clube carioca que tem na camisa a cor grená. Ora, é sabido que o olho do homem não enxerga mais que dezesseis cores, e todo e qualquer indivíduo que, não tendo buceta, reconheça cores como o grená, o magenta, o salmão e o pérola torna-se ipso facto suspeitíssimo de apreciar uma pra-te-leva a magoar-lhe os intestinos.

Mas e a Flagay, pergunta o amigo botafoguense? Ora, o próprio desabafo reproduzido por V. Exª. demonstra que essa associação contra natura entre o Manto Sagrado rubro-negro e o hábito da sodomia passiva é rechaçada pela torcida do Flamengo, que tem ameaçado punir tais manifestações com corretivos físicos que, se bem têm coibido as atividades espúrias da Flagay, perigam, por outro lado, fazer as tricoloucas se apaixonarem por nós. É um risco a ser levado em conta.

E por que tantos pederastas notórios -- continua o amigo, citando Lacraia, Jackson e George -- têm por hábito aviltar as cores rubro-negras ostentando o Manto Sagrado de Zico, Zizinho, Dida e Leônidas? Ora, é sabido que perobos assim apreciam, mais do que qualquer outra coisa, uma trosoba preta com a cabeça roxa. E estudos demográficos sérios comprovam que pra-te-levas com essas características (mormente no que se refere à negritude) encontram-se com muito mais facilidade na multitudinária e democrática torcida do Flamengo do que na insignificante e aristocrática torcida tricolor.

De modo que o amigo não se engane quanto à sinceridade desses perobos ao trajar o vermelho e o preto. Fazem-no por puro interesse, nunca por convicção. Estivesse na moda, entre eles, uma trosoba senil, enrugada e impotente de septuagenário, e as Lacraias que hoje o amigo vê de vermelho e preto imediatamente trocariam o Manto Sagrado pela camisa sem cor e sem glória do Botafogo.

Espero com isto haver dissipado quaisquer dúvidas que o amigo porventura tivesse sobre a questão.

Respeitosamente,

Olavo Pascucci